Por: Rozembergue Marques
Um problema que está às margens das rodovias, em terrenos baldios, em ruas sem asfalto e que em muitos casos tem seu capitulo final nas portas do Hospital da Vida ou da UPA, como mostram os números da dengue na cidade. Em Dourados e em muitas cidades os “lixões” são um drama urbano, seja pelo mau cheiro que exalam seja pelo risco à saúde das populações. Aqui, em uma estrada de terra que liga o bairro Estrela Verá à BR-163 existe um com mais de 2 quilômetros de extensão de pneus, pedaços de móveis, galhos, garrafas de vidro e PET, vasos sanitários, eletrodomésticos sem condição de uso, sofás (muitos sofás!) e até caixas de água.
Uma lei de 2010 (Lei 12.305) instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Entre os objetivos da Lei estão a não geração, a redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos — a parte que não pode ser reaproveitada e tem de ir para aterros sanitários. A PNRS nasceu por conta do aumento da geração de lixo. Segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, cada brasileiro produz, em média, 379,2 kg de lixo por ano, o que corresponde a mais de 1 kg por dia. Se adotado esse parâmetro, Dourados produz mais de 200 toneladas por dia.
A expectativa dos ambientalistas e especialistas em destinação de resíduos é que o problema dos “lixões” seja amenizado com o cumprimento, na íntegra, do contrato assinado com uma empresa terceirizada. Todos estão de olho na cláusula quarta do contrato firmado e que trata dos serviços, que inclui a implantação da Usina de Triagem de Resíduos (UTR); a implantação de Usina de Resíduos de Construção Civil e Demolição (URCCD); serviços de limpeza de resíduos sólidos e entulho em córregos, nas margens das rodovias e áreas diversas; programa de educação ambiental e gerenciamento de eco pontos existentes na área urbana e nos distritos. Como não existem Ecopontos nos distritos, é de se supor que eles foram incluídos porque a Prefeitura pretende implantar esses pontos de coleta nessas localidades.
O que se espera é que a empresa contratada siga o exemplo de um empreendimento instalado na mesma região (na saída para o Porto Cambira) que tem a mesma finalidade - a destinação adequada do lixo- e um diferencial: só recebe lixo industrial. A empresa tem como clientes grandes empresas como a Coamo, a Petrobras, a JBS e outras. Ali, praticamente tudo é aproveitado: o lixo orgânico vai para compostagem e vira adubo, os materiais em madeira são serrados no formato de cavacos e abastecem os fornos de caldeiras e por aí adiante. O pouco que não se aproveita é enterrado em um espaço impermeabilizado, de forma a que o chorume não contamine o lençol freático.
A implantação da coleta seletiva, que caminha a passos de tartaruga, é outro desafio. Nesse processo a população precisa assumir responsabilidades, como bem ponderou o geólogo e ambientalista José Daniel de Freitas Filho em entrevista recente a O PROGRESSO. Em Dourados, apenas pouco mais de 50 dos 450 bairros são atendidos pela coleta seletiva. Separação correta, reciclagem, reutilização e não desperdício dos resíduos sólidos geram benefícios ao meio ambiente. “A população pode contribuir na sensibilização de que os resíduos sólidos recicláveis, limpos e separados, podem alimentar inúmeras famílias, pois geram emprego e renda. A sensibilização poderá ser alcançada com implementação de instrumentos econômicos que possam incentivar a população fazendo a troca de recicláveis por unidades de créditos com liquidez entre parceiros dos projetos”, opina José Daniel. A necessária sensibilização da população, sem a qual a coleta seletiva não “anda”, pode ser alcançada com implementação de campanhas massivas de conscientização ambiental que ressaltem a necessidade da reciclagem como uma forma de reduzir o acúmulo de rejeitos aproveitáveis que compõem grande quantidade de lixo gerada por todos os cidadãos.
Outra medida importante é a divulgação da localização dos Ecopontos. A cidade possui Ecopontos para recebimento de galhos nos bairros Parque das Nações I, Parque do Lago II e Cohab II. O Ecopontos de Resíduos Recicláveis é a Agecold, localizada nos fundos do Parque Arnulpho Fioravanti. O Ecoponto de Pneus fica na Rodovia 163 (chácara Trevo, próximo ao trevo da bandeira) e Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) ou Papa Pilhas em 100 locais espalhados pela cidade, como repartições públicas municipais, estaduais e federais e comércios de grande fluxo. Por fim, está em fase de implantação um PEV para Resíduos de Construção Civil.
Atualmente, parte do lixo recolhido pela empresa é encaminhado à Agecold, a Associação dos Agentes Ecológicos de Dourados, criada na gestão do ex-prefeito Laerte Tetila. A entidade, embora pública, hoje é gerida por terceiros. Os catadores preferem vender o que recolhem às inúmeras empresas de reciclagem surgidas após a “descoberta” desse quinhão que é o reaproveitamento a seguir as regras dos atuais gestores da Associação. A maior parte é encaminhada ao Aterro Sanitário. Com a implantação da Usina de Triagem de Resíduos (UTR) no Aterro Sanitário, há a intenção de que os catadores sejam levados até o local e sejam remunerados para atuar na separação dos resíduos.
Outro lado
Em nota enviada ao jornal, a Prefeitura, através da sua Assessoria de Comunicação, afirma que já dá destinação adequada à média de 230 toneladas dia de lixo residencial gerados na cidade, encaminhando para o Aterro Municipal. Lixo Residencial. “Sobre o lixo que as pessoas/parte da população faz é descarte clandestino em vias e parques públicos, uma das ações que já fizemos são os ECOPONTOS que já temos 3 em pontos estratégicos da cidade”, afirma a nota. “Temos projeto para criação de mais 5 Ecopontos na cidade (urbanos), 1 em cada distrito e mais 1 em cada aldeia. Mas aqui vale ressaltar que a população precisa de conscientizar sobre a destinação correta. Lixo Industrial não temos essa informação, tem uma empresa que faz isso. A OCA (referindo-se a uma empresa privada) que tem destinação industrial em Dourados. A Agecold é a associação que ampara os catadores de resíduos reciclados e processam esse material”, finaliza o texto enviado pela Assessoria de Comunicação.